Green Ports em Portugal: Inovação, Sustentabilidade e Liderança na Transição Energética

Os portos portugueses estão a acelerar a transição para um modelo mais sustentável, posicionando-se como referências europeias na promoção da descarbonização e da ecoeficiência. A implementação de projetos inovadores, investimento em tecnologias verdes e o compromisso com metas internacionais de sustentabilidade destacam o papel dos Green Ports em Portugal.

O presente artigo faz uma análise rigorosa, com dados reais, aos principais e mais recentes desenvolvimentos nos portos nacionais, dando especial enfoque ao Porto de Lisboa e ao panorama global da indústria portuária portuguesa.

Porto de Lisboa: Pioneirismo em Sustentabilidade

O Porto de Lisboa está atualmente na vanguarda dos portos sustentáveis em Portugal, reforçando o seu compromisso com o “Green Deal Europeu” através de múltiplos projetos estratégicos e investimentos de grande escala. Desde 2023, a Administração do Porto de Lisboa tem vindo a operacionalizar um plano ambicioso para instalar infraestruturas elétricas em terra via tecnologia OPS (Onshore Power Supply), permitindo aos navios atracados desligar motores a combustão e ligar-se à rede elétrica do porto.

Esta medida traduz-se numa redução significativa das emissões de CO₂, NOx, SOx e partículas, melhorando a qualidade do ar na zona ribeirinha da cidade e atraindo operadores marítimos que privilegiam exigências ambientais. O projeto encontra-se dividido em duas fases: a primeira orçamentada em 20 milhões de euros, já conta com 2,7 milhões investidos na instalação da linha de alta tensão e na subestação elétrica; a segunda fase, dedicada aos terminais, ficará sob responsabilidade dos concessionários.

O cronograma para o OPS inclui estudos e candidatura a fundos europeus (2022-2023), início da implementação (2023) e conclusão prevista em 2027, envolvendo stakeholders como Lisbon Cruise Port, EDP e autoridades municipais. A primeira fase está prevista entrar em exploração em 2029.

Monitorização Ambiental e Responsabilidade

Na vertente da monitorização de emissões, o Porto de Lisboa tornou-se o primeiro porto do sul da Europa a adotar o Environmental Port Index (EPI), uma solução digital inovadora criada na Noruega que avalia em tempo real as emissões dos navios no porto, abrangendo tanto navios de carga como de cruzeiro. Esta ferramenta, aceite internacionalmente, promove a responsabilização das companhias marítimas, permitindo uma gestão mais transparente e fundamentada do impacto ambiental da atividade portuária. Desde 2019, o EPI tornou-se referência internacional, incentivando a redução de CO₂ e estimulando práticas ambientalmente responsáveis em 39 portos europeus e escandinavos.

A APL destacou publicamente o papel do EPI e a transparência na monitorização ambiental, divulgando em outubro de 2024 o estudo “Monitorização da Qualidade do Ar na envolvente do Terminal de Cruzeiros de Lisboa”. Os dados recolhidos ao longo de um ano mostraram que, não obstante picos ocasionais, os níveis de poluição mantiveram-se dentro dos limites europeus, contribuindo para a criação de conhecimento técnico sobre o impacto da atividade portuária.

Energia Renovável e Inovação

O compromisso do Porto de Lisboa com as energias limpas é ilustrado pela instalação da primeira turbina eólica urbana WindCredible numa infraestrutura nacional, localizada na torre VTS. Este projeto piloto visa a replicação noutros pontos do porto e da cidade, promovendo a autossuficiência energética baseada em fontes renováveis.

Além disso, foram implementados painéis solares fotovoltaicos no edifício da APL em Alcântara, e projetos inovadores como a Wavecom para monitorização hídrica e energética e o sistema inteligente SMART PORT LX, em parceria com a Nova IMS, para monitorização ambiental e operacional, revelam aposta clara na digitalização e ecoeficiência.

A ética ambiental e o diálogo aberto com entidades como a Câmara Municipal de Lisboa, Turismo de Portugal, TAP e associações ambientalistas é potenciada pela coordenação do Comité de Sustentabilidade da Atividade de Cruzeiros. O Porto de Lisboa reforça a cooperação em redes internacionais, integrando comités de organizações como ESPO e Cruise Europe, fomentando também parcerias com startups e centros de investigação.

Impacto Económico e Social

O impacto da atividade portuária em Lisboa ultrapassa o concelho, refletindo-se positivamente na economia nacional. Em 2024, eram esperadas 360 escalas de navios de cruzeiro, representando cerca de 750 mil passageiros — números que cresceram consecutivamente. Um estudo da Nova SBE indica que cada escala contribui com, em média, 2,29 milhões de euros para o PIB e cria 59 postos de trabalho, além de gerar mais de 900 mil euros em receitas fiscais. Em 2023, o porto de cruzeiros de Lisboa representou 0,3% do PIB nacional, impactando diretamente 794 milhões de euros.

Portos de Leixões, Madeira e Açores: Esforços Conjuntos

O Porto de Leixões está igualmente empenhado em cumprir os prazos europeus para reforço da eletrificação das operações portuárias. A APDL (Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo) está a preparar-se para garantir operações mais verdes até 2030, através de iniciativas como a criação de infraestruturas para carregamento elétrico de navios, modernização de equipamentos, utilização de autocarros elétricos e rebocadores ecológicos, bem como a promoção de combustíveis alternativos.

A aposta em energias renováveis, tal como o aproveitamento do sol, vento e ondas, visa atingir a neutralidade carbónica até 2035, antecipando em 15 anos o prazo definido pelo Acordo de Paris. A digitalização e monitorização da qualidade do ar são prioridades, fortalecendo o compromisso social e ambiental da APDL.

O porto da Madeira, ainda que fora da primeira fase do plano europeu, está a desenvolver o projeto Green Ports, cofinanciado pela União Europeia, que inclui estudos de viabilidade técnica e financeira para implementar OPS (Onshore Power Supply) nos portos do Funchal, Caniçal e Porto Santo. Participa também em projetos internacionais como o SHIFT2DC, envolvendo 30 entidades de 12 países e um orçamento de 11 milhões de euros.

Nos Açores, embora os custos e a dispersão geográfica sejam condicionantes, está em curso a análise da viabilidade económica para instalação de OPS, especialmente para o tráfego interilhas nas ilhas do Faial, Pico e São Jorge. As decisões terão de respeitar a regulamentação ambiental europeia e nacional.

Indústria Marítima: Desafios e Progresso

A indústria de cruzeiros tem vindo a investir em navios mais amigáveis do ambiente; atualmente, 52% das embarcações já estão aptas para ligação a OPS, sendo que se espera que este número suba para 72% em 2028. Contudo, apenas 3% dos portos europeus têm, à data, fontes de alimentação elétrica instaladas, evidenciando o desafio que se coloca à indústria portuária.

A instalação total do sistema de fornecimento de eletricidade no terminal de cruzeiros de Lisboa permitirá uma redução estimada de 77% das emissões de gases com efeito estufa, relativamente ao ano base de 2019. O terminal terá capacidade para fornecer energia a três navios em simultâneo e está projetado para futuras expansões. Trata-se de um investimento estratégico que alavanca o posicionamento ambiental, reputacional e operacional do Porto de Lisboa face aos portos ibéricos.

Concluindo…

Portugal está a afirmar-se como líder na transformação sustentável dos seus portos, encarando com pragmatismo e inovação os desafios da transição energética. O investimento maciço em infraestruturas elétricas, monitorização ambiental, energias renováveis e práticas ecoeficientes materializa-se em dados concretos e resultados reconhecidos a nível europeu.

Os Green Ports em Portugal, capitaneados por Lisboa, demonstram como o rigor técnico, a transparência e a adaptação às necessidades internacionais podem contribuir para um futuro mais limpo, resiliente e economicamente dinâmico. Acredita-se que, com o reforço das cooperativas, da digitalização e do envolvimento multipartidário, será possível alcançar metas ambiciosas e manter Portugal como referência global em sustentabilidade portuária.

Este artigo foi elaborado a partir de fontes reais, reunidas de notícias, comunicados oficiais da Administração do Porto de Lisboa, da APDL e da APRAM, bem como de estudos setoriais publicados entre 2023 e 2025.