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A Syone Sailing Team, liderada por Nuno Neves, tem conquistado destaque nas competições nacionais e internacionais, combinando talento, dedicação e paixão pelo mar.
Nesta entrevista, Nuno Neves partilha a visão de liderança e alta performance que impulsiona o projeto.
1. Origens e a Parceria de Longo Prazo
A fundação da Syone Sailing Team resultou de um acordo com a Syone, uma empresa de IT que partilhou a visão e os valores do projeto. Nuno Neves destaca a solidez desta aliança: “O primeiro contrato teve a duração de dois anos, mas a nossa relação já dura há doze“. O projeto nasceu com a ambição de competir e vencer ao mais alto nível. Embora reconhecessem a distância inicial para o topo, a convicção era forte: “Sabíamos que estávamos longe desse patamar, mas tínhamos a convicção de que, se quiséssemos o suficiente, seria apenas uma questão de tempo até lá chegar”.
O momento em que a vela se tornou uma dedicação profissional foi após a formalização do contrato. Nuno relata que, a partir desse ponto, passou a “encarar a vela como uma atividade central da minha vida“. O compromisso com metas crescentes, impulsionado pelos resultados iniciais, permitiu a evolução constante do projeto.
Nuno cita nomes de grandes velejadores que foram para si, grandes inspirações como Torvar Mirsky e Adam Minoprio. Acrescenta ainda que, aprendeu muito com eles e que “ainda hoje aplico alguns métodos deles com a minha equipa”.
2. Desafios, Mentalidade e Resiliência
No início, Nuno Neves identificou na própria gestão do projeto um grande desafio. Contudo, o maior obstáculo prático foram as limitações orçamentais, que colocavam a equipa em desvantagem face a adversários com melhor equipamento. Com o tempo, essa realidade tornou-se uma motivação. A sua filosofia é clara: “Saber que tenho de ser mais rápido e mais disciplinado, compensa qualquer desvantagem técnica”.
Questionado sobre desistir, Nuno afirma: “Desistir, não. Mas já estive muitas vezes desmotivado”. No entanto, a desmotivação é usada como um motor: “Eu uso a desmotivação como combustível“. É nos momentos mais difíceis que a criatividade surge, alinhada com a sua máxima: “Como eu costumo dizer: há solução para tudo“.
Para o Nuno, a gestão da adrenalina é positiva: “Para mim, a pressão e a adrenalina são a parte mais divertida“, pois significam que se está a competir por algo relevante, mantendo o foco. Ou seja, consegue estar concentrado durante uma regata de 10 horas.
A prova mais exigente foi o Campeonato Europeu, em agosto de 2025, uma regata intensa de cinco dias que exigiu a resolução constante de problemas técnicos e enfrentou temperaturas elevadas. Nuno classificou-a como, “sem dúvida, um grande teste de resistência e resiliência“.
3. A Liderança e Dinâmica de equipa
A dinâmica da equipa é um fator decisivo na performance. Nuno explica a sua relevância através da metáfora da pirâmide: “Dividindo uma pirâmide em 3, a prestação da equipa é a base. Depois vêm as opções táticas durante a regata e o cume da pirâmide, e menos importante, é a performance do barco e respetiva otimização”.
Como responsável pelo projeto e líder, além de fazer leme, Nuno reconhece a complexidade de gerir nove pessoas com diferentes personalidades. O método para manter a coesão do grupo é através do exemplo: “Diria que a melhor forma de manter a motivação e a coesão do grupo é através do exemplo“. A sua persistência inspira a equipa, gerando um ciclo positivo: “Essa dedicação da parte deles acaba por gerar nova motivação em mim, criando aqui um loop de entreajuda e isso é no fundo o motor do projeto”.
A rotina de competição inclui o briefing antes de cada regata para ajustar funções e motivar a tripulação. Após a regata, o processo de aprendizagem e melhoria é imediato, com o debriefing para “corrigir falhas” e a preparação tática da regata seguinte.
4. Conquistas Marcantes e Objetivos Futuros
Um dos momentos de maior orgulho foi a aquisição do último barco, um modelo mais competitivo, que representou um “marco importante, um patamar incrível que o projeto atingiu“. Essa aposta foi rapidamente recompensada com a conquista do primeiro Campeonato Nacional, “o primeiro de uma sequência de três títulos consecutivos“. Nuno sublinha que “O primeiro nunca se esquece e foi também a confirmação de que toda a dedicação e persistência tinham valido a pena”.
A vitória mais inesperada foi no Troféu Príncipe de Asturias, em Baiona, em 2023. A equipa partiu “sem grandes expectativas, até porque nunca tínhamos vencido uma regata internacional”, mas conseguiu conquistar o troféu, tornando-se “um dos momentos mais altos do projeto até agora”.
A ambição de evoluir é constante, mesmo que isso implique a troca de material: “Já vamos no quarto barco em doze anos, o que mostra a vontade constante de melhorar”. O próximo grande objetivo é “voltar a vencer uma prova internacional e renovar o título de Campeão Nacional”, com o foco na “consistência permanente”.
5. O Leme Pessoal: Equilíbrio e Curiosidades
A dedicação de Nuno Neves à competição de alto nível implica, por vezes, um desafio no equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. O velejador admite que este equilíbrio nem sempre foi possível, lembrando-se da preparação para o Europeu ORC em Palma: “Foi uma altura em que a minha cabeça estava totalmente virada para a preparação desta prova”. Acabou por colocar “tudo o resto em segundo plano”, mas salienta o apoio familiar: “A família compreendeu e apoiou. Eles sabem que quando quero muito uma coisa, faço por isso”. Esta é a sua perspetiva de gestão de prioridades: “Talvez tudo isto faça parte do tal equilíbrio só que às vezes a balança pende mais para um lado”.
Quando não está a bordo, o foco na melhoria não desaparece, já que “normalmente quando não estou a bordo, estou a pensar em como otimizar o barco para ser mais competitivo”. Contudo, há vida para além das regatas, Nuno gosta de estar em família, especialmente desde que foi pai recentemente. Outros interesses incluem acompanhar as notícias do mercado das criptomoedas, conduzir em “modo sport” e fazer melhorias em casa, além de snorkelling e esquiar.
6. Escola da Vida e Mensagem Final
Nuno Neves aconselha os jovens a encarar a vela como uma “escola da vida”, onde se desenvolvem a nível pessoal e desportivo. O conselho é para que se mantenham curiosos, disciplinados e persistentes, pois os resultados aparecerão.
Sobre a evolução do desporto, Nuno defende a transparência e a qualidade das competições. “Eu tenho uma máxima: o vencedor deve ser sempre um justo vencedor“. Para tal, é necessário que o sistema de cálculo seja justo e as provas bem organizadas, elevando a qualidade do desporto em Portugal e criando um “ciclo positivo” com clubes mais fortes, melhores eventos e maior envolvimento empresarial.
Para os futuros atletas, a mensagem final é de resiliência e adaptação: “No mar, como na vida, o vento nem sempre sopra a nosso favor. Há que ajustar as velas e rumar a bom porto“.
Com as suas palavras, Nuno Neves não apenas documenta os triunfos e desafios do Syone Sailing Team, mas partilha a essência de uma paixão e dedicação que transforma o esforço em grandes vitórias.
“Nota do Redator: O Nuno Neves foi professor de vela da equipa da Lisbon Sight Sailing na sua fase inicial. É sempre bom aprender com os melhores. Atualmente continua a acompanhar-nos e ajudar-nos sempre que necessário. Obrigado Nuno. Bons ventos!”
